quinta-feira, 31 de maio de 2012

Anatomia de Gray

Teresina, Piauí. Não é bem sobre a cidade que vou escrever, mas estive por lá durante alguns dias quando finalmente consegui estar de férias pela primeira vez em sete anos no mercado de trabalho. Foram cerca de dez dias de bastante calor (chuva também), viagem de carro pelo litoral, sol, mar, amigos, muitas risadas e vários passeios para conhecer todos os lugares possíveis.

Em um desses passeios bem urbanos, resolvi entrar numa discreta e bem dividida livraria, no principal shopping de Teresina. Eu devo confessar que quase nunca consigo passar em frente a um lugar desses e não entrar nem que seja apenas para olhar e folhear alguns livros, mesmo que eu não leve nada. Andei pelo recinto, bem aconchegante por sinal, com mesa e cadeiras para o leitor degustar os livros antes de comprar e me deparei com um livro que me chamou muito a atenção na sessão de literatura médica...

Anatomia de Gray é o título em português do famoso livro de anatomia do autor Henry Gray, em inglês Gray´s Anatomy. Sim, você devem estar pensando “Esse cara é louco? O título do livro que está na foto é Gray Anatomia e o autor Charles Mayo Goss!!!”. Mas a resposta é não! Acabei usando a foto da capa deste livro, apenas contar a fato de um livro me remeter a um seriado que gosto bastante, chamado “Grey´s Anatomy”.

O drama médico-americano exibido desde 2005, pela rede ABC nos Estados Unidos é um folhetim protagonizado por Ellen Pompeo interpretando a Dra. Meredith Grey, residente do fictício hospital cirúrgico Seattle Grace, em Seattle, Washington, o mais rígido programa cirúrgico de Harvard. A série é focada nela e seus colegas, também internos, mostrando suas vidas amorosas e as dificuldades pelas quais passam no trabalho.

Sua autora, Shonda Rhimes apostou num formato bastante instigante, todos os episódios são iniciados por uma narração da personagem principal, Meredith Grey, cujo conteúdo sempre está diretamente ligado aos conflitos e problemas vividos pelos personagens e claro, o cotidiano de um grande hospital americano. Ao fim de cada episódio, a voz de Meredith aparece novamente, retomando a narrativa inicial do episódio e concluindo com uma boa lição de vida. Suas frases são dignas de citações, e muitos fãs criaram comunidades, blogs e até mesmo sites dedicados às frases mais marcantes. Já ouvi muita gente dizer que sempre se emociona ao final de cada episódio assistido, e isso, para mim, é devido à grande sensibilidade de quem o escreveu, contando fatos e situações da vida real, muitas vezes compartilhado por pessoas comuns, gerando então um processo que chamo de identificação.

Atualmente o público está acompanhando os momentos finais da 8ª temporada e como todo fã, eu também me incluo neste grupo, o desejo de saber se a história continurá em uma próxima temporada aumenta com o último capítulo, onde mudanças significativas acontecem com muitos personagens e a própria história em si.

Para conferir mais detalhes sobre a série, sugiro ler o artigo disponível no Wikipedia, que me parece bem completo, e ainda o Blog feito por fãs brasileiros e apaixonados pela série.

Abraços e até a próxima!

domingo, 6 de maio de 2012

Entre o bem e o mal


Certinho, padre, santo, ingênuo, bonzinho. Já me chamaram assim, várias vezes. E, na verdade, em todas elas acredito que estão me chamando de otário. Afinal, o mundo é cruel e mesquinho não é mesmo? Para vencer, há de ser esperto, ter malícia, não confiar em ninguém, jogar duro com as pessoas, cultivar mais o egoísmo, ter ambição, pensar bem grande. Se não agir assim, desculpa, mas parece que você não tem muita chance neste mundo. Bonzinho só se fode, como dizem. Ou não é bem assim que pensamos?

Olha, não pretendo aqui para fazer uma ode à bondade (embora até devesse). Nem quero me retratar como a laranja boa em meio às podres – nunca sabemos exatamente que tipo de laranja estamos sendo. Mas no momento em que se discute como nunca a intolerância do brasileiro com a corrupção, também é hora de falar das relações de honestidade e solidariedade aqui no mundo dos comuns. As questões que me movem nestes dias são, por exemplo: “O que é ser bom?”, “Por que ser bom?”, “Vale realmente a pena ser bom?”, “O que ganho sendo bom?”, “Pensar no que ganho sendo bom já não anula parte da minha bondade?”.

Me questiono porque cada gesto bom é visto como extraordinário. Fora da ordem. Fora do comum. Sempre fora. Nunca dentro. Dentro da normalidade. Dentro do nosso cotidiano. Dentro de nós. O melhor mesmo é não ser tão bom assim.

Acho que é isso que define um pouco a 'sociedade psicopata' que estamos criando, como disse Arnaldo Jabor na sua coluna de terça-feira (1), em O Globo. O livro “Mentes Perigosas”, de Ana Maria Barbosa, aborda com mais profundidade a psicopatia e aponta exatamente esse ambiente social de poucos valores, obscuro e perigoso, em que devemos estar preparados para passar a perna antes de sermos derrubados, como ambiente perfeito para o êxito dos psicopatas.

O que vejo são pessoas sem empatia, sem sentimentos, pouco confiáveis, egocêntricas sendo o espelho para os outros. Como dizem Jabor e Ana Maria em seus textos, a admiração pelos vilões e o fastio com os bonzinhos nas telenovelas poderia ser um exemplo dessa inversão de papéis. A batalha épica por um assento no metrô seria outro. Avançar o sinal vermelho, mais um.

Atualmente, agir com correção e seriedade é de dar vergonha. Bem visto o que não confia em ninguém. Esse vai longe. Os bons jamais lideram com eficiência. Os bons nunca vão comandar. Ninguém segue os bons. E assim caminhamos. Todos já pensamos (ou continuamos pensando) assim.
Entretanto, se analisamos como a humanidade chegou aqui, vamos perceber o quanto nos apoiamos uns nos outros, o quanto somos seres dependentes do coletivo. Para isso, é preciso um mínimo de confiança e respeito nas relações sociais. Mas nos esquecemos disso. Mesmo que o individualismo nunca tenha produzido nada de tão bom para nós.

E foi exatamente com essa atitude que nos colocamos em situação de ameaça. A natureza é implacável com nosso egoísmo. Uma lição que fazemos questão de jogar fora todos os dias. Não importa se na rua ou na calçada do vizinho. O que vale é se livrar desse lixo que é o compromisso de ser bom. Temo os que têm a consciência limpa demais.

Ao som de “Onde está a honestidade?” - Noel Rosa